De como a vida se tornou remota


Minha vida era modesta, mediana e desinteressante para ser assim exposta ao público. Mas aí veio a pandemia da Covid-19 e ela se tornou tão ruim como a de qualquer outra pessoa. Como em um filme apocalíptico, a humanidade se tornou um caos. 

Eu, por sorte, ou circunstância, pude trabalhar de forma remota, mas tive que me adaptar. Do dia para a noite, tornamo-nos verdadeiros artistas: escrevendo, produzindo e atuando diante das câmeras; tive aprender a fazer vídeo, live, podcast e a trabalhar com aplicativos de todos os tipos; a boa e velha caixa-postal passou a ser o centro de nossa atuação social e profissional.

As interações remotas entraram em nossas vidas de tal maneira, que minha consulta médica passou a ser feita a distância, assim como a reunião semanal da irmandade da qual faço parte. 

Por outro lado, reduzimos drasticamente nossa perda de tempo no trânsito conturbado das grandes cidades; passamos a cultivar mais plantas e a valorizar o aconchego da família, assistindo um filme "on demand", ou simplesmente em um bate-papo descontraído sobre alguma postagem nas redes sociais. Os salários encolheram e os últimos dias do mês tornaram-se mais longos.

Só agora posso entender o poeta Manoel de Barros, ao lembrar-se da sua infância no isolamento do pantanal: "as distâncias somavam a gente para menos". A vida mudou diante da sombra da morte e provavelmente entramos em uma nova etapa evolutiva da humanidade. A adaptação é condição para continuarmos vivendo.

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