MINHA PEQUENA ARCA DA SALVAÇÃO

 


Minha casa, onde vivo e trabalho remotamente, é minha arca. Há momentos em que gostaria de sair por aí e voltar também quando quisesse, mas poder estar em casa e, ainda assim, trabalhar, ser remunerado por isso, é um privilégio que me faz grato por estar em tal condição.

Sei que nem todos podem manter sua vida assim. No entanto, se aqueles que podem, estivessem produzindo de dentro de suas casas, a vida daqueles que não pode ficar em casa seria muito menos arriscada diante desta pandemia.

Os que podem ficar em casa são os clientes daqueles que não podem, estabelecendo um equilíbrio capaz de nos fazer vencer, talvez, essa grave crise. Há muito que os serviços de entregas vêm se multiplicando, criando um amplo mercado no nosso país; mercados de periferia já fazem a compra a pedido do cliente por telefone e, mesmo lojas de roupas, levam sua mercadoria para o cliente em casa.

Não há conflito entre os que ficam em casa e os que não podem fazê-lo. A própria necessidade, ou impulso, de consumo sustenta a cadeia. Sendo assim, os que ficam em casa tendo sua remuneração garantida (pelo menos por hora) remuneram fornecedores e serviços (que se adaptaram à nova realidade).

Àqueles que clamam pela volta do “normal”, somente nos resta lamentar pela sua vã esperança. Há quem, indignado, pergunta sobre quem pagará a conta e eu respondo: “ninguém”; como ninguém paga o prejuízo de um investidor capitalista. Ninguém “compensará”, porque o causador de tudo isso foi um vírus que não tem patrimônio para compensar ninguém.

Segundo a bíblia, nos dias de Noé, enquanto ele preparava seu abrigo para um futuro de dificuldades, morte e destruição, as pessoas desdenhavam de sua atitude aparentemente tresloucada. Hoje vemos aqueles que negam a gravidade da situação, num verdadeiro clamor pelo direito de morrer. Quem ganhava seu dinheiro com aglomerações terá que se adaptar e ganhar o seu pão de uma nova maneira. Os ritmos da humanidade mudam e nós estamos sempre nos adaptando em nome da sobrevivência. Trata-se apenas de mais um momento de mudança.

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